quinta-feira, 10 de junho de 2010

Algo estranho a acontecer

Cá, quem fala é a dor.
Eu sou apenas eu, não me cuido
com primor, não me olho com amor,
quem és, pergunto para mim em cada
ida ao espelho, ele diz

pois, não diz, apenas me olha
da maneira que o olho e ri-se
da maneira que não me rio,
Sofre sem te conheceres
e ama sem temeres, quando a mágoa voltar
já amaste o que havia a amar,
tudo o que fica,
fica por que tem que ficar.

Já nem sei quem sou,
se deliro com um espelho
que direi a um estranho
que nem conheço, que problema
é esse que não esqueço a tua maneira
de falar. Nunca te vi,
deixa-me ajudar. Nunca
mais te falarei, por favor, deixa-me
só sussurrar aquilo que nunca
soube aplicar!

Alto, a noite não pára de crescer.
Talvez nunca saiba o porquê.
Talvez a noite, quando anoiteça
também não pergunte à lua se ela quer
aparecer. Talvez volte a reaparecer.

Joaquim Salgueiro