sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O prometido futuro.

Por entre muralhas
que cercam distâncias
e torturam paixão,
não sei se sim,
só sei que não.
nunca te vi, apesar
de correr todas as noites
estradas sem fim
e cair de penhascos
irreais, apesar de todos os dias
mandar beijos para o ar
e esperar que eles voem
até verem os teus lábios.

seja um dia
futuro e eu estarei contigo,
seja um dia o prometido
e nunca serei o mesmo.

qual o mal de querer?
e de sentir,
de quando em vez,
a tua falta?
mesmo sem nunca te ter,
sei que voltarás
por um caminho
nunca pisado.
Um dia será o prometido futuro.

Joaquim Salgueiro

A erva

Algures no monte
existe a erva com a forma
do meu ser, deformada,
deprimida, bela e a morrer.
Algures no céu,
as nuvens páram só para ver
e criam trevas acomuladas
de sonhos empilhados, por uma erva
em forma de eu.
Algures no estábulo,
o animal lembra-se das nuves,
que de tanto parar ficaram escuras,
por uma erva que não teve coragem de comer.
Algures na cama, entre vales e lençois,
o homem estranha o olhar vago dos animais,
só porque uma erva nasceu em forma
disforme e o céu a admirou.
Algures na minha mente,
eu adormeço a pensar neste quadro
verde escuro, com focos baratos e pouco seguros,
choro sem fim, por uma forma que não devia haver.

Joaquim Salgueiro

terça-feira, 7 de setembro de 2010

I.

Apagas-te uma vela que ardia muito
mas devagar,
e fiquei sem luz, sem fogo
e sem expressão.
Acabou-se a caneta, o papel
e a tinta preta
as lágrimas e a prata dos castiçais...

Vendi tudo ao diabo,
fogo e água com sal
quis o teu bem pelo meu mal
e nem assim o vento te deixou ficar...

Dividi o coração em mil partes
deixei-tas à porta do quarto,
ou debaixo da tua cama
ou em cima
ou sentadas no sofá
até na mesa da cozinha,
estão todas por encontrar...

Foram-se o beijos,
onde os posso ir buscar?
Foram-se os "amo-te",
quando vão decidir voltar?
Foi-se tudo e eu não sei mais que escrever...
Foste... foste e sinto a falta de te ter...

Joaquim Salgueiro