sábado, 24 de outubro de 2009

Sem título ( II ) - Diário da indefinição

Existe algures
alguém como eu,
que não escreve
mas reescreve o que já escreveu.

Talvez imagine neste
momento o mesmo que eu,
mais exacto,
preciso e imaginário,
e apague, ao mesmo tempo,
o meu-nosso cigarro.

E quem ouve,
ouve com paixão,
vê a reescreita
e risca as palavras
(para ele esqesitas)
que o mesmo poeta já leu.

(Olá meu eu,
és tu ou são
apenas as pessoas que lá fora
gritam?)

Joaquim Salgueiro

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Escrevo-te

Lembras-te de mim,
cada vez que passas na universidade
ou ouves lá fora a chuva?
Lembras-te,
(na minha distância)
da presença do meu ser
(quem me dera estar presente...)
quando a saudade
era maior que a crença,
enquanto chorávamos a despedida
sem lágrimas,
e nos beijávamos, devagar...
(na tua mente,
na tua boca
na tua alma)

Recordo eu,
mais tarde e sem fim,
será a presença
ou a inexistência de matéria minha
nessa tua viajada pessoa,
que me descobre e esventra?
Esventrado, caído e acabado,
sou morto de morto-vivo,
vivo cadáver,
amo de novo, nascido hoje
me reclamo,
vivo por ti,
vivo demais e, no fim
(fim de algo em mim)
estou bem,
estou bem assim.

Joaquim Salgueiro

sábado, 17 de outubro de 2009

A necessidade.

A irmã : Tenho-te comigo em todo lado, no pensamento que me acompanha ao longo de dia (junto com a preocupação), onde de vez em quando, quando posso e me atrevo, visito o teu quarto e relembro as conversas desconversadas que aí já tivemos. Soa a algo tão banal que enjoa só de ler, como pode algo descrito não ter nada a ver? Será o indiscritível algo que além de não poder ser escrito, também não pode ser lido? Mas bem, pelo menos sentido. Sei bem que durante o dia são diversas as vezes em que te sentas e pensas (meia séria, meia discreta) "o que será que aquele rapaz anda a fazer?" . Fui bem treinado, tive mais que uma irmã, uma mãe e um ombro (um ombro esquesito tenho a dizer. Além de encosto tem ouvido) que , invariavelmente, nunca saiu do sítio. Por tudo o que posso dizer e tudo o que não disse, por todas as vezes que me perdoaste e me ensinaste, por tudo o que pensas e não falas ou por tudo o que escondes e partilhas (em jeito de silêncio, para mais ninguém perceber), mais que um obrigado. Um sincero obrigado.

O amigo : Mas por que raio tinhas que ter ido logo este ano embora? Porque raio tenho eu que sentir a tua falta e sentir-me feliz só de te ouvir falar? É verdade que já não vivo sem a habitual exposição de conhecimento musical/cinemático a que me sujeito de cada vez que tou contigo, é verdade que cada vez me habituo mais a viver sem te ter constantemente por perto e sim, é verdade, que cada vez que me rio contigo é verdadeiro. Nunca poderei esquecer imitações rafeiras de músicas como "eu sem ti quem era", "a música dos perfume" ou a mítica "beautiful ride", é verdade que nunca me vou esquecer do pes, do "qui é?!" da choradeira a caminho do act ou simplesmente uma noite qualquer no 115, com conversa acompanhada pelo fumo e pela sagres (tinhas que preferir sagres... panisgas!), se bem que também me fazes a vontade e também temos a super. Não posso quantificar as memórias que tenho contigo e muito menos as que quero continuar a ter, não te posso dizer o quanto mereces um, ou dois (ou quantos quiseres) "cafunés" só por me aturares e perceberes, e por fim, in a way of puting things... Strokes for the win!

A namorada : Não sei se deva meter apenas namorada. Não és apenas a namorada. Aliás, tu não és apenas. És muito mais que isso. Sabes todos os meus pontos (os bons e os maus), apoio-me sem medo em ti e sei que força, para mim, nunca te faltará. Confio-te a vida de cada vez que te sussurro um "amo-te" ao ouvido e exponho-me cada vez mais, ao ser apenas o meu ser. Sou contigo, vivo em ti, preciso-te (Quem me dera que não fosse uma expressão tão usada. Mas esta é única por dois motivos : primeiro, porque é verdadeira. Segundo porque é só tua). Deambulo pela minha mente e só a ti te encontro, cada vez mais exposta, cada vez mais minha. Era eu não te encontrar e o mundo acabar. Sei que cada vez que passo pela tua casa penso o quanto aí fui feliz. Sempre que passo em ruas desertas lembro-me daquele dia, quando fui tão feliz, tão teu, tão exposto. O engraçado, gostei de estar exposto. Obviamente (ai o Obviamente... fizemos dele o nosso café preferido sem darmos sequer hipótese a outros para se meterem na competição... mas não importa, é de facto explêndido. Ia ganhar de qualquer das formas.) que isso é estranho de se ouvir. Mas o que é realmente estranho é o facto de apesar de saber a estranheza dos meus sentimentos, sei que sentes de maneira igual. Nada nem ninguém no mundo poderá ser ou compreender isso como nós. Únicos. Perfeitos. Eternos.

Joaquim Salgueiro

Sem título ( I )

Lá ao fundo
vejo as pessoas
(serão ratos?)
que seguem as vidas
(totalmente programadas)
desordenadamente,
chiam e não falam
enquanto a roda não pára
(numa elegância desilegante),
pobres humanos,
parecem ratos.

E correm contra o relógio
(relógio ganha, humano é parvo),
portanto, cá bem do alto
eu sou falcão,
vejo entre cabeças a agitação,
caça distante,
pedindo a critíca
(quase em súplica).
Querem saber?,
são mesmo ratos.

Joaquim Salgueiro

domingo, 11 de outubro de 2009

bilhete (na tua cama)

o céu estuda de cima
o nosso amor,
pelo menos tudo o que ele significa.
Pelo menos somos um
e seremos.

joaquim salgueiro

(vem aqui, rouba o lugar na cama, o portátil, enfim, este rapaz é um desgraçado!)

sábado, 10 de outubro de 2009

(auto)Observação

Estou lá fora
e se me virem noutro espaço
é a alma que divaga,
não o corpo, esse é fidalgo.
Mas não me apetece
saber mais que o geral
sou poeta que vive em ruas
não sou uma mente recheada
nem vidente
de contos de fadas.

E passa o tempo por mim
sem que nada mude,
lá fora o mundo e as casas abandonadas
com habitantes provisórios
(e bolsos irrisórios).

Falta-me a mim mudar,
com esperança numa
mudança
de quem nunca viu
mas fez.

Joaquim Salgueiro

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Homenagem ao interior português.

( Desde já ponho aqui o aviso : Vou editar o meu primeiro livro. Ainda não está definida a data de lançamento, mas de qualquer maneira , quando souber, avisarei concerteza. )



Vida que leva
o homem do tasco
serve e bebe
o vinho que do pipo
traz, além da cor,
sabor esquesito.
Vive de conversas
com pessoas de renome
(lá na aldeia
todos sabem quem é pobre)
e relembra a cada dia,
não fosse a missa,
a terrinha estava morta.

Quase que está
ouve-se nas ruas desertas
são as vozes de paralelos
e paredes da idade
de Portugal,
quase que não há gente
que caminhe
ou se espezinhe
(tirando as beatas que na paróquia habitam).

Revolta!
Revolta!
É o eco que as árvores
ouvem no vale
lá do tasco o gerente treme
entre um copo
e um prato que arrefece.

"se não estou morto,
já devia estar."

Joaquim Salgueiro.