domingo, 29 de março de 2009

Loucura

minha eterna loucura
vejo te como demência
minha e das ruas
dos centros paroquiais que te proclamam
de drogados que te amam
jovens doentes que violas
e velhos senis que te pedem,
quase a chorar,
que não te vás embora.
Grito alto mensagem tua
(entre tremores por baixo da mesa
e olhares voltados
para os olhares atrás de mim)
estou falido de amor louco
estou louco da amor por ti.

Chego agora a implorar um golpe
por momentos de maior lucidez
que haja justiça
e que a história não se acabe sem fim.

Joaquim Salgueiro

sexta-feira, 27 de março de 2009

O mundo num segundo

Um mundo,
imaginemos
o mundo num segundo
paralelo,
vagas de vidas
bichos da sida
fome no prato
e nem tábua se come com a mão
não há mão
um dia, foi comida em vez de pão.
um segundo e lá vai ele
entristecido
onde Deus o colocou
perdido
olhos esbugalhados na natureza
de mulheres sem saia
com rabiscos de tinta branca
no corpo vencido,
com papel demais gasto
traços de coca
e talvez heroína.
Agora, suponhamos
mente séria e adormecida
que mundo padece num segundo?

(olha a vida
mais pobre e puta
que vencida,
olha-me esta pele
de tanto uso corroída
mete-me aqui os olhos
sua vadia,
não te desvies
hoje morro mas sonho contigo)

Joaquim Salgueiro

canto de reflexão

olho de frente
e não vejo palavra
vejo letra,
vejo fumo
penso tudo
e não há nada
desvio e já não minto
outro caminho
outro destino
olho mar
sonho paraíso
sou mais anjo
detenho o poder do juízo.

e pelo momento
que acho nocivo à mente
falo para mim e digo
quem me dera nunca me ter lido.

Joaquim Salgueiro

segunda-feira, 23 de março de 2009

O que afinal sou

sou alegria

sou jovem enternecedor

véu com véu por cima

sou mágico que

encerra magia

sou fogo em corpo de rapariga

a voz no eco do país

moeda perdida

capa estendida e serenata

em varanda de menina.

lobo velho desconfiado

idoso em esquina

polícia armado

sou cantor, escritor, terrorista

de amor

sou mais santo

que santo de minha terra

virgem puro

puritano corredor

ignorante orador

sou mais e mais calor

numa pele sensível

sou ardor

água limpa suja

de nada

sou vazio e sou

granada

colisão de madrugada

sou cego

surdo e mudo

e sou

por final

mudança do meu estado

num estado de

tudo menos esperança.


Joaquim Salgueiro

Poetas de rua

Numas linhas
o poeta sobe rua
e calçada acima
mal trabalha
mal se rima
sobe montes e sobe vales
voa céus
e sonha estrelas
diabo nas veias
e tinta na língua
proclama a rua escrita
pedra a pedra
(pedras malditas).

que angústia que prazer
que ternura
e loucura sonha
o poeta
vive escrito
morre maneta,
sua mágica eterna caneta
só a Deus na sua
santíssima divindade pertence
lá vão os grandes poetas descrentes
oh senhores
trotineta dos céus
em sonetos sermões e mais talvez
os capítulos da vida
do grandioso calor
nas costas sentido.

não se pense,
por favor,
que senhor Deus não tenha lugar
para homens tão sábios
eternos escritores
a seu lado, escrevem a ele
mas descrentes de qualquer
salpico de bondade
não perdem tempo,
sabem o destino de suas palavras
à frente, costas viradas
calças em baixo.

Joaquim Salgueiro

sábado, 21 de março de 2009

O meu (pequeno) desabafo.

sinto o calor
do fogo na escrita
e o ardor nos dedos
que me impede de mais alto sonhar,
sonho por isso contigo
e assim vou continuar,
amanhã talvez volte a sonhar
talvez acabe aqui até acabar,
só queria saber até
quando esta loucura vai continuar
será que morro, será que choro?

(de repente chegou
a noite e com ela
a alma apagou de frio.
Valeu a pena,
toque nulo, beijo crasso
ausento-me
e tua falta,
valeu... remorso
controverso e minha calma,
teu amor
acabou.)

Joaquim Salgueiro

domingo, 8 de março de 2009

mais uma noite em coimbra

da manhã salta à vista
a praça e a desgraça
de partidos
fundados, já vencidos,
arruinados
com suas lágrimas divididas
têm grito, alma e sida
têm voz, álcool
(e alguns) heroína.
de manha são as ruas limpas
e as garrafas partidas
beatas são varridas
os copos (mares de copos)
são vísiveis, mas como senhoras
da vida,
escondem-se com a luz do dia.

chega à noite e recomeça,
enfim
mais uma noite em coimbra.

joaquim salgueiro

2ª certeza

Haverá algo para além
da tua imagem?
Sonho mais perfeito,
Pensamento mais impossivel
que não te ter?
Quererei demais tua alma
e beberei cada uma das palavras
que me disseres.
Amar-te é vida
Olhar-te é sentido,
É base e sem ti,
Há a ferida que me destrói.
Não quero, posso sonhar
o pesadelo de nao te ter,
mas nao te perco.Não te posso perder.

Joaquim Salgueiro