sábado, 24 de outubro de 2009

Sem título ( II ) - Diário da indefinição

Existe algures
alguém como eu,
que não escreve
mas reescreve o que já escreveu.

Talvez imagine neste
momento o mesmo que eu,
mais exacto,
preciso e imaginário,
e apague, ao mesmo tempo,
o meu-nosso cigarro.

E quem ouve,
ouve com paixão,
vê a reescreita
e risca as palavras
(para ele esqesitas)
que o mesmo poeta já leu.

(Olá meu eu,
és tu ou são
apenas as pessoas que lá fora
gritam?)

Joaquim Salgueiro

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Escrevo-te

Lembras-te de mim,
cada vez que passas na universidade
ou ouves lá fora a chuva?
Lembras-te,
(na minha distância)
da presença do meu ser
(quem me dera estar presente...)
quando a saudade
era maior que a crença,
enquanto chorávamos a despedida
sem lágrimas,
e nos beijávamos, devagar...
(na tua mente,
na tua boca
na tua alma)

Recordo eu,
mais tarde e sem fim,
será a presença
ou a inexistência de matéria minha
nessa tua viajada pessoa,
que me descobre e esventra?
Esventrado, caído e acabado,
sou morto de morto-vivo,
vivo cadáver,
amo de novo, nascido hoje
me reclamo,
vivo por ti,
vivo demais e, no fim
(fim de algo em mim)
estou bem,
estou bem assim.

Joaquim Salgueiro

sábado, 17 de outubro de 2009

A necessidade.

A irmã : Tenho-te comigo em todo lado, no pensamento que me acompanha ao longo de dia (junto com a preocupação), onde de vez em quando, quando posso e me atrevo, visito o teu quarto e relembro as conversas desconversadas que aí já tivemos. Soa a algo tão banal que enjoa só de ler, como pode algo descrito não ter nada a ver? Será o indiscritível algo que além de não poder ser escrito, também não pode ser lido? Mas bem, pelo menos sentido. Sei bem que durante o dia são diversas as vezes em que te sentas e pensas (meia séria, meia discreta) "o que será que aquele rapaz anda a fazer?" . Fui bem treinado, tive mais que uma irmã, uma mãe e um ombro (um ombro esquesito tenho a dizer. Além de encosto tem ouvido) que , invariavelmente, nunca saiu do sítio. Por tudo o que posso dizer e tudo o que não disse, por todas as vezes que me perdoaste e me ensinaste, por tudo o que pensas e não falas ou por tudo o que escondes e partilhas (em jeito de silêncio, para mais ninguém perceber), mais que um obrigado. Um sincero obrigado.

O amigo : Mas por que raio tinhas que ter ido logo este ano embora? Porque raio tenho eu que sentir a tua falta e sentir-me feliz só de te ouvir falar? É verdade que já não vivo sem a habitual exposição de conhecimento musical/cinemático a que me sujeito de cada vez que tou contigo, é verdade que cada vez me habituo mais a viver sem te ter constantemente por perto e sim, é verdade, que cada vez que me rio contigo é verdadeiro. Nunca poderei esquecer imitações rafeiras de músicas como "eu sem ti quem era", "a música dos perfume" ou a mítica "beautiful ride", é verdade que nunca me vou esquecer do pes, do "qui é?!" da choradeira a caminho do act ou simplesmente uma noite qualquer no 115, com conversa acompanhada pelo fumo e pela sagres (tinhas que preferir sagres... panisgas!), se bem que também me fazes a vontade e também temos a super. Não posso quantificar as memórias que tenho contigo e muito menos as que quero continuar a ter, não te posso dizer o quanto mereces um, ou dois (ou quantos quiseres) "cafunés" só por me aturares e perceberes, e por fim, in a way of puting things... Strokes for the win!

A namorada : Não sei se deva meter apenas namorada. Não és apenas a namorada. Aliás, tu não és apenas. És muito mais que isso. Sabes todos os meus pontos (os bons e os maus), apoio-me sem medo em ti e sei que força, para mim, nunca te faltará. Confio-te a vida de cada vez que te sussurro um "amo-te" ao ouvido e exponho-me cada vez mais, ao ser apenas o meu ser. Sou contigo, vivo em ti, preciso-te (Quem me dera que não fosse uma expressão tão usada. Mas esta é única por dois motivos : primeiro, porque é verdadeira. Segundo porque é só tua). Deambulo pela minha mente e só a ti te encontro, cada vez mais exposta, cada vez mais minha. Era eu não te encontrar e o mundo acabar. Sei que cada vez que passo pela tua casa penso o quanto aí fui feliz. Sempre que passo em ruas desertas lembro-me daquele dia, quando fui tão feliz, tão teu, tão exposto. O engraçado, gostei de estar exposto. Obviamente (ai o Obviamente... fizemos dele o nosso café preferido sem darmos sequer hipótese a outros para se meterem na competição... mas não importa, é de facto explêndido. Ia ganhar de qualquer das formas.) que isso é estranho de se ouvir. Mas o que é realmente estranho é o facto de apesar de saber a estranheza dos meus sentimentos, sei que sentes de maneira igual. Nada nem ninguém no mundo poderá ser ou compreender isso como nós. Únicos. Perfeitos. Eternos.

Joaquim Salgueiro

Sem título ( I )

Lá ao fundo
vejo as pessoas
(serão ratos?)
que seguem as vidas
(totalmente programadas)
desordenadamente,
chiam e não falam
enquanto a roda não pára
(numa elegância desilegante),
pobres humanos,
parecem ratos.

E correm contra o relógio
(relógio ganha, humano é parvo),
portanto, cá bem do alto
eu sou falcão,
vejo entre cabeças a agitação,
caça distante,
pedindo a critíca
(quase em súplica).
Querem saber?,
são mesmo ratos.

Joaquim Salgueiro

domingo, 11 de outubro de 2009

bilhete (na tua cama)

o céu estuda de cima
o nosso amor,
pelo menos tudo o que ele significa.
Pelo menos somos um
e seremos.

joaquim salgueiro

(vem aqui, rouba o lugar na cama, o portátil, enfim, este rapaz é um desgraçado!)

sábado, 10 de outubro de 2009

(auto)Observação

Estou lá fora
e se me virem noutro espaço
é a alma que divaga,
não o corpo, esse é fidalgo.
Mas não me apetece
saber mais que o geral
sou poeta que vive em ruas
não sou uma mente recheada
nem vidente
de contos de fadas.

E passa o tempo por mim
sem que nada mude,
lá fora o mundo e as casas abandonadas
com habitantes provisórios
(e bolsos irrisórios).

Falta-me a mim mudar,
com esperança numa
mudança
de quem nunca viu
mas fez.

Joaquim Salgueiro

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Homenagem ao interior português.

( Desde já ponho aqui o aviso : Vou editar o meu primeiro livro. Ainda não está definida a data de lançamento, mas de qualquer maneira , quando souber, avisarei concerteza. )



Vida que leva
o homem do tasco
serve e bebe
o vinho que do pipo
traz, além da cor,
sabor esquesito.
Vive de conversas
com pessoas de renome
(lá na aldeia
todos sabem quem é pobre)
e relembra a cada dia,
não fosse a missa,
a terrinha estava morta.

Quase que está
ouve-se nas ruas desertas
são as vozes de paralelos
e paredes da idade
de Portugal,
quase que não há gente
que caminhe
ou se espezinhe
(tirando as beatas que na paróquia habitam).

Revolta!
Revolta!
É o eco que as árvores
ouvem no vale
lá do tasco o gerente treme
entre um copo
e um prato que arrefece.

"se não estou morto,
já devia estar."

Joaquim Salgueiro.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

alguém, que faz de alguém a fazer de alguém...

Tudo o que
não disse aos meus pensamentos
pode ser descrito
como inútil
vulgar ou fútil,
de pouco interessante
ora falso
ora humilhante,
não digo a mim
por isso escrevo ao mundo
se a mente
não conhece a verdade
e o coração
é apenas a maior obra de ficção
alguma vez criada
eu me rendo por fim
à verdade
fatal e real
de que por vezes a vida
sabe mais do que eu.

E que mal tem
eu me confessar a mim próprio?
Já que não digo
tudo ao meu ser
ao menos que a minha mente saiba o que pensa,
não vá mesmo a sociedade
pensar que só ela me controla...

Acabo a dizer
ao meu leitor
nunca se engane,
as pessoas são apenas imagens na sua cabeça...
tudo o resto é que importa.

Joaquim Salgueiro

domingo, 16 de agosto de 2009

Bilhete do nosso amor. (7ª folha)

"Meu amor,

Sussurro um amo-te ao vento. E o vento leva-o, uma e outra vez. Espero ansiosamente que o ouças, que o sintas, que me queiras. O fogo que me percorre as veias não se apaga com a escrita, admito, mas rezo para que se acenda em ti. Não quero arder sozinho. Nunca quererei. Pago agora as saudades por tanto te precisar e não me arrependo o tanto te amar, será demais? A menos nunca é, isso tenho a certeza. Neste pequeno excerto só uma coisa está no meu corpo. O teu coração.

Teu,
Joaquim Salgueiro"

(Esta é sem dúvida uma folha A5)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Diário do nosso amor. (6ª folha)

"Meu amor,

Estou parado e olho o céu. Lembras-te de Orion? Eu lembro. E lembrarei sempre, assim como aquela música que ficará no meu coração eternizada, assim como todos os momentos em que estive (ou não) contigo. Apetece-me enlouquecer e fugir do mundo contigo, raptar-te do que a ti te rodeia,
levar-te, ter-te e abraçar-te, como gosto de fazer. Penso sempre se estarás bem comigo. E espero sempre para mim que os meus braços sejam sempre para ti a tua única casa.
Admito que agora fechei os olhos e te imaginei, tão bela, sorridente e, nos meus lábios, ardente. É paradisíaco, confesso, poder sonhar contigo como tão bem sonho e saber que enquanto escrevo estarás tu suspirando por mim. Verdade, a tua falta é dura e crua, intragável e sofrida, meu amor, é falta de pouca dura, dias de chuva nunca vêm para ser eternos e tu que me iluminas, como sempre às-de voltar a reencontrar meus braços e um leve trocar de saudades encriptados nuns doces e apaixonados toques labiais. Mais até, prometo, já amanhã, tenho a vida em mim para te dar, vida e muito mais, é amor, é alma e acreditar! És tu meu amor, que me cantas no coração, embalas-me na tua voz e bem no espírito me falas, me recitas, me atrais. Íman do meu ser, posso afirmar.
É hora de te telefonar, preciso desesperadamente de voltar a ouvir a tua voz. Como sempre, amarte-ei no meu caminho. E obviamente, ainda temos muito a caminhar.

Teu,
Joaquim Salgueiro"

domingo, 2 de agosto de 2009

O dia a dia de serrano

Olha em volta
e aprecia
o rapaz da chique moradia
é finório
elegante e distinto,
rosa no peito
nota no bolso
e cachimbo que combina,
é alto
(por demasia)
rapaz sério
e caladito
não se abre
nem com as meninas!
o coitado do rapazito,
cá na terra
lá falam das companheiras
umas gordas
outras feias,
todas putas
todas pranhas,
trazem meninos
filhos
e sobrinhos
(à dias até um gandulo
lá foi parar,
era panilas
ouvi dizer)
Quando não chove
anda cá fora
"Olá senhor chique!"
Disseram olá?
Ele também não!
tem a mania
e nariz mais que empinado
raio do rico
era poder
e dava-lhe um cacete!
Enfim...
Amanha falarei da irmã.

Joaquim Salgueiro

terça-feira, 28 de julho de 2009

A menina e o seu rio.

Passa ao lado
da moradia a rapariga
com as calças bem em cima
na margem do seu rio,
olhem as mãos já calejadas
tão preenchidas
de roupa como de tristeza,
mete roupa, tira roupa...
e lá fica ela a secar,
veste o fato e vai embora,
não a menina,
o outro que com ela estava,
dono da roupa.
Menina que passas
não te faças de despercebida,
és escrava rapariga,
mulher?, só quando
estiveres nos bordeis,
por agora vais-te mantendo
nas margens do teu rio
que em vez de água
traz doenças,
quem sabe lixo.

Joaquim Salgueiro

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Agradecimento.

Perdi horas
a tentar perceber-me
por dentro,
sem conclusão alguma,
esperança inexistente
de me encontrar
perdido, à deriva
vagueando aqui, ali,
subindo a vida
(ou será ela que
sobe por mim acima?)
e atirando-me ao
chão me rendo.
Por isso em casa,
à frente da lareira,
entre um café e um cigarro,
entre um olhar e um rasgo
de visionário
observo o espelho
e depois do nada aparente,
estou em ti morando,
sorrindo, chorando.
Já que na realidade nunca daí saí,
para quê mudar?
Outro café, outro cigarro,
a vida corre e agora
estamos eu, tu
a lareir, as folhas
lá fora ao vento,
uma casa, o nada,
o mundo.
Do vazio se fez este mundo,
obrigado meu amor.

Joaquim Salgueiro

Saudade.

Recordo entre os teus beijos,
(foram tantos,
muitos outros virão)
o primeiro,
como que em jeito
de reclamação
reivindicar o que é demais
para mim necessário.
És um suspiro
ou um grito de alívio,
não sei bem,
no entanto
eu te preciso
e portanto te eternizo
com palavras vindas
do fundo de interior nunca antes calcado
e por isso,
de certo modo apavorado,
mantenho-me preocupado
com o que apenas te direi.
Será demais?
Nunca, penso eu,
amar-te-ei hoje,
para sempre
e quem sabe,
talvez depois.

Joaquim Salgueiro

Entre um sorriso e uma lágrima.

Poetizo o que
sinto para não parar,
para não pensar,
até porque
já deixei de me ver
há muito,
mais que muito
tempo,
e agora encontro-me
em ti, olhando
bem por dentro
de tudo o que poderia
ser chamado de alma.
Verdade,
serei eu clone
ou escravo?
Não importa na realidade
estou voluntariamente algemado
e o cérebro paralisado,
qual mente,
coração apenas, só teu
teu e para sempre!

Joaquim Salgueiro

certezas

Saberei sempre
o que escrevi para ti,
sempre o que quis dizer
e dir-te-ei sempre
o meu amor
paixão por paixão,
cada dia diferente
tal o tamanho
do crescente sentimento.
Nunca me esquecerei
de um beijo
ou carinho
numa casa onde
nunca sozinho,
fui maravilhosamente
conduzido
algures para além do espaço
e voltei,
contigo a meu lado,
ao teu sorriso
(Admito)
meu eterno paraíso.

Não fosse o amor eterno,
que tentasse!
mudaria tal fado
e seria o revolucionário,
por tua causa,
caderno do meu ser
Diário do meu viver.

Joaquim Salgueiro

Desejo.

A permanência do teu
ser apodera-se
de mim,
por mais que queira
quero sempre mais,
e o teu cheiro
permanece
assim como o sussurro,
beijo surdo
ou olhar mudo
fogo de vista
que arde mas não vê,
amanhã talvez
te possa conhecer uma e outra vez,
de vez em quando
tocar o prazer
e por fim eternizar
o teu ser
numa simples folha de papel.

Joaquim Salgueiro

sábado, 18 de julho de 2009

Diário do nosso amor. (5ª folha)

"Meu amor,

Sinto que escrever esta folha é demais previsível ou vulgar, não te quero escrever todos os dias, para poder com isso tornar alguns especiais, mas admito, tal fraqueza a minha que não consigo parar de escrever para ti quando as lágrimas me escorrem a face. Não sei se é tristeza ou felicidade, sei que é amor. Sei que é saudade. Ainda não parti numa tão curta jornada e já agora sinto a tua falta, o teu cabelo, a tua face, os teus lábios ou o delicioso toque da tua mão. Será isto demasiada paixão? Prometi para mim que nunca seria dependente de ninguém, a verdade é que nesse aspecto sinto-me um mentiroso incumpridor que quebra palavras e códigos de (talvez) conduta por amor, mas será errado a uma pessoa confiar a nossa alma? Surge-me agora esta dúvida e tenho que admitir, a ti nunca será um erro dar a minha paixão e de certeza que posso afirmar, entrego-te a chave da minha vida como se fosse mais um beijo, seguro e sentido, sem nada que uma outra intenção possa estar envolvida. Entrego-me meu amor. Admito também que pensei antes de quebrar tal promessa pensava que depêndencia significava aprisionamento. Outra vez estava errado e quando o falava era um mentiroso pervertido. (Só espero não me tornar um viciado doentio) Sei agora que tu me abriste a jaula e, pura e imaculada, apareceste tal santa iluminada, guiando seguidor à vida. Sim, eu vivo contigo. Vivo em ti meu amor.
Peço desculpa pelo desabafo em forma de diário publico-privado, mas se não me confessasse a ti, a quem mais me iria confessar? Sinceramente e com todas as forças, é muito mais do que alguém possa tentar explicar.

Teu,
Joaquim Salgueiro"

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Diário do nosso amor. (4ª folha)

"Meu amor,

Há certamente muito tempo que penso em ti. Há certamente muita coisa que digo e com certeza tanta que fica por dizer. A verdade é que quando não há palavras, não deveríamos inventar e pensar que isso é melhor do que um silêncio apaixonado ou que um beijo necessário num momento de amor. Apesar de isto ser verdade, também o é que se não te escrevesse não saberias tão bem a importância que um amo-te pode ter, ou se calhar até saberias. Assim sabe-lo melhor. E não me arrependo de inventar palavras novas para tentar descrever um sentimento inexplicável, nem que passe a minha vida toda assim. Também temos a vida toda, não é assim? Mas não me importo de ir tentando, talvez um dia atinja o que ninguém atingiu antes de mim consiga descrever o indescritível. Posso afirmar com certezas que esta carta, este diário do nosso amor, que é público mas privado por ser só nosso, não passa de mais um beijo e uma carícia no teu (sub)consciente. Acredito que esta fica bem guardada em ti, como as outras, e que nunca vais deixar de saber que este nosso publico-privado diário será a obra prima do nosso amor. Como sempre, hoje posso dizer que te amo. Amanhã será igual.

Teu,
Joaquim Salgueiro"

Vontade.

Tudo muda o mundo
e no entanto não posso deixar de pensar,
tudo é tudo
e que outro poderia mudar
que língua seria esta sem o fumo
das guerras de há anos atrás
palavra viajada
entre terras de ideologias
diferentes e orgias de pensamentos
que pessoas
seriam as pessoas do planeta
se não houvesse o universo,
talvez nem houvessem pessoas
talvez nem houvesse mundo.
e portanto o meu tudo
que muda o mundo
é o raro astro
do outro lado do espaço
que me enfeitiçou com o gosto
das palavras
e acreditou
num miúdo com vontade de mudar
o tudo que gere o mundo.

A vontade não falta a este povo
(faltasse e seríamos outros)
o resto,
enquanto aguarda,
está sendo trabalhado
(trabalho inacabado de centenas de anos)
e , quem sabe um dia,
tudo esteja mudado.
(rezo eu a um Deus que não acredito
que esse dia seja amanhã)

Joaquim Salgueiro

sábado, 11 de julho de 2009

eterna e única teoria

Depende de tudo o que queiramos
depende do azul do céu
dos teu olhos nos meus
e enquanto depender
sou escravo e irei ser
viverei entre paixões e pessoas
e suspirarei de amor
quem sabe não serei o próximo
a ser morto,
(entretanto outro morreu
desta já estou safo)
e penso de novo
subirei a vida de baixo a cima
sem falhas ou detalhes esquecidos
e cada lição aprendida
é página marcada,
nunca demais lida.
Aplico aqui a minha eterna e única teoria,
sou apenas um só ser
e como tal só eu tenho o meu poder
de mudar o mundo
(pelo menos o meu)
e chorar no teu ombro de menina
sou eu que me detenho
e por isso
garanto-te, entrego-me a ti.

Joaquim Salgueiro

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Diário do nosso amor. (3ª folha)

"Meu Amor,

Hoje procurava na minha mente tudo o que ainda não encontrara. Inconclusivo, portanto, senti-me preenchido, fechado e fascinado, mais que tudo apaixonado e, por isso, completo. Deste-me um mundo e o vulgar continuou vulgar, apenas mudou a vida, abriu-me os olhos e a mente. Confesso-me nesta carta não porque seja teu eternamente, ou porque trepe infernos se necessário por ti, mas sim porque já me ouves como se fosses a pessoa mais importante e a que melhor me compreende. Falando verdade... és. E como poderias não ser se o medo de viver acabou e se o pavor de te perder não é claro, se respiro a felicidade e se sorrio só por demais ser amado. Certezas, só umas. Serás sempre a minha estrela no céu. Nem que seja a mais longinqua, desde que a consiga ver, tudo bem. (olha para lá e multiplica a distancia pelo maior número que te possas lembrar. O meu amor será sempre o dobro) Confesso a paixão e dependência que tu és e admito, drogas, só tu, e garanto, é da boa. Procurar o que não encontrei ainda... não vale a pena. Tudo o que houver tu mostrar-me-ás. O mais importante já conheço. O teu amor.

Teu,
Joaquim Salgueiro"

Uma parte do aparte

Passa horas a debater-se
entre a cerveja
o povo de portugal
ou uma garrafa de vinho partida
que estilhaçada
há-de cortar alguma jovem descalça
que foge do namorado em plena rua
gritando mais ao céu
do que às pessoas
"Ajuda!" - essa não vem dos céus, nem das pessoas,
ou são cegas ou são surdas
burras não podem,
o fiasco que vai em casa só
se deve ao necessário gasto
nas "desnecessariadades" da vida,
putas e comida
(por exemplo, se só ficássemos por aqui...)
e enquanto dos céus vem ajuda divina
nós rezamos, pedindo
que chova ouro em vez
daquilo a que chamo tinta
(de água já não tem nada)
e, se não acharem pedir demais,
que mate mais uns quantos,
com novas gripes
ou "tiróidites saltitantes agudas - tipo XPTO",
assim, sempre alguma comida sobrará.

Chega-se ao fim do debate e conclui-se
será nesta escuridão
que se ilumina Portugal?

Joaquim Salgueiro

domingo, 5 de julho de 2009

sentimento que pára no tempo.

Numa casa só
e abandonada pelo tempo
onde o vento não passa
onde o presente não pára,
refugio-me com poemas medíocres,
palavras sem nexo
e inspiração desconexa
sangue estático
e estática na televisão ligada ao fundo.
Nesta casa apenas
me vejo,
onde sozinho me encontro com a dor
e percebo o abandono
que uma palavra não dita deixa,
a falta
a solidão triste duma noite de verão
e as lágrimas que não derramo
no chão,
os cortes que na alma tenho
e o som de sofrimento no coração.
Choro ou não?
Decidirei amanhã.

Joaquim Salgueiro

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Diário do nosso amor. (2ª folha)

"Meu amor,

Entrou em mim agora outra necessidade que não posso apelidar de estranha por ser simplesmente tão constante de te escrever. E não consigo descrever mais o que sinto se já levei à exaustão o meu amor poetizado, mas a força que move montanhas também há-de mover um pequenino como eu. Preciso de te dizer que virão momentos maus. Como não poderiam vir? Se não viessem não tinham valor todos os outros tão extraodinários que temos. Seriam banalizados ao ponto de lhes chamar-mos normais. Não são. Cada pedaço de mim pede para te fazer mais feliz a cada momento, e cada pedaço de mim que consegue sorri. Os outros não morrem, não, pelo contrário, mais se esforçam para atingir uma perfeição inantigível que se torna possível a teu lado. A teu lado o mundo tem asas, e eu fico cá em baixo, bem de longe, olhando pasmo e apaixonado a beleza que ele me revela, beleza essa só descoberta por ti. De facto mudei meu amor... Nunca mais quis estar sozinho no mundo, nunca mais consegui. Tornas-te a minha primeira casa, com quarto especial para nós os dois, onde o meu coração mora e palpita, por ti e em ti. Amo-te hoje.
Amanhã será igual.

Teu,
Joaquim Salgueiro"

segunda-feira, 15 de junho de 2009

país sem nome

apresenta-me o mundo,
desconhecido,
com esse teu olhar
de vazio na face
a expressão de nada no corpo
e a tua alma
esmagada que sinto no vento forte,
leva-me a vaguear à noite
por este país sem nome
com criatividade absurda
e espasmos de loucura
este país de artistas e engenheiros
e senhoras com banqueiros
de povo morto antes de nascido
e lembrado do
há muito vivido mar,
estas cidades desertas
e bancos de jardim por esvaziar
discotecas cheias
e clubes de strip a abarrotar,
onde igrejas enchem pessoas
e padres cegam a vida
de crianças empobrecidas
país este desconhecido
ao outro mundo além do normal
com escolas
que penetram vidas
e destroem monstros temidos,
analfabetismo
(pena estas escolas
serem fantasia)
onde as urnas têm bombas
(como poderiam não ter ?
o povo não quer votar)
e outro desconhecido sem nome
morre de overdose
numa valeta citadina
ou numa casa rural.
leva-me, desconhecido,
e no fim
(sim, estou a implorar)
diz que afinal
sou apenas eu a sonhar.

Joaquim Salgueiro.

sábado, 13 de junho de 2009

Diário do nosso amor. (1ª folha)

"Meu amor.

Passam hoje incontáveis dias a teu lado. O ar continua na mesma, o cheiro (teu cheiro) permanece em mim, e a tua voz está no ouvido, incansavelmente se repete entre sussurros apaixonados. A tua alma continua em mim, e a tua imagem deu-me a imaginação de criar uma deusa. Cada sorriso que me passa pela cara reflecte-se no meu interior e cada momento que revivo incessantemente parece cada vez melhor contigo. Não, peço perdão, melhor será o próximo. E haverão eternos próximos. Parei no tempo e não vou crescer mais, a não ser que me agarres a mão e me puxes. Contigo irei ao futuro, sempre que assim o desejares. E quando o futuro for presente, haverá mais. É quando olho esta janela de paixão que o sangue pulsa nas veias e a respiração aperta, o efeito borboleta passa a ter apenas significado no meu interior e , que nem gato, ronrono lentamente com uma vontade imensa de saltar todo e qualquer muro. A vida não tem barreiras sufucientes para me deter de ti. Passarei cada momento nos teus olhos e quando não puder mais suspirar (por tanto o ter feito antes) , chorarei lágrimas de euforia. Euforia, meu amor. Hoje posso-te prometer que te amo.
Amanhã direi o mesmo.

Teu,
Joaquim Salgueiro "

o mais simples.

Valham-me as estrelas
e os sonhos
o sol e o mundo
valham-me as crianças
e o fogo
o calor e o abrigo
valham-me as noites
e os dias
valha-me a vida,
e o meu amor.
tudo o resto está perdido.

(sem ser poema que mereça esse nome, nem tudo o que passa pela vida é belo e complexo. nem tudo o que se quer está assim tão longe e nem toda a perfeição existe. aliás, creio que nenhuma existe.)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

haja noite todo o dia.

é noite
e a polícia faz mais uma rusga
um drogado morre
e um político geme na sua cama
(pagando luxo com dinheiro contribuinte)
ouvem-se tiros
e o bairro grita
as mães correm para ver os filhos
trazendo uma moldura de família,
o que resta da casa

está partido.
é noite de serem vidas destruídas
putas passarem sida
e miúdas
de decotes e fio dental em cima
se abrirem com um doutor ao virar da esquina
(daqui a um mês será noite de chacina)
e crianças pequeninas
sonharem o mundo sozinhas
perfeito, utópico
mundo de fantasias.

chego ao fim e só penso,
amanha será igual.

Joaquim Salgueiro

quarta-feira, 3 de junho de 2009

quadro da mente.

o dia está morto
e o meu corpo torto
em sofá antigo alheio
e a alma
num canto despedaçada
entre estilhaços
mãos trémulas que lhe pegam
alma fraca descolada
uma vez deifeita
nunca mais reparada.
o dia está morto e parado
e os pássaros não cantam
o mundo parou
e a minha mente já não mente
as flores têm esta cor diferente
uma cor cor-de-nada
o ar cheira a vazio
e o mar continua sem sabor
o vento aquece o dia de verão
e a chuva não supera as minhas lágrimas
o chão está impregnado
de álcool
que tem o aspecto característico
de mais uma morte na estrada.

levanto a cabeça
e verifico
ou o tempo parou
ou a vida está toda igual.

Joaquim Salgueiro

terça-feira, 2 de junho de 2009

terça feira. a ultima terça feira.

um dia
vou te escrever
e relatar-te
sussurrar-te
enquanto
com a alma te percorro o corpo
o meu olhar neste teu dia,
em que por ti
demais por ti
choro de tristeza e alegria
choro de amor
choro da vida
choro por fraco e por vencido
choro por mim.

O teu amor nunca irá. O meu nunca morrerá.

Joaquim Salgueiro. (choro o tempo, o espaço e o vento. o que nunca quererei que tenha passado)

terça-feira, 26 de maio de 2009

Foto do hoje.

é de tarde
e os olhos fotografam
cabelos de sereia ao vento
longos, perfeitos
está o poço sem fundo
dos teus olhos nos meus
e o calor que emanas tão forte
de amor por amor se move
tirada foto a régua e esquadro
e desenho
uma aguarela pintada
sei que em memória que não se esbate
um dia não são dias
e o dia é sempre de te amar.
Joaquim Salgueiro

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Intenso. Amor. Gostar Ferozmente.

só no céu te poderei ver
e um dia
em terra (uma terra)
sonherei escrever
descrever o paraíso
da face branca morena castanha
que a minha alma
(por dentro felina)
tem no momento de ser.
não sofre e não sente
e escrevo o presente
com teu nome no peito
e gritando coração ao mundo
"és a vida, és o centro!"
e de repente tal instante
orgulhoso com a certeza de o ser
meu amor paixão querer...
(toda a vida
perfeição de mulher.)

Joaquim Salgueiro. (Ines Alexandra Gonçalves Fernandes)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ao jeito de intervenção.

com marcos de história
e sortes macabras,
destinos traçados
vestidos rasgados,
rios de sangue
vermelho amargo,
branco mais sujo
homens malvados,
meninos perdidos
em camas deixados,
estendidos em braços
nas morgues largados.

lacrimejar ódio
moder o amor,
lá fora a vida
e polícias na rua.
pedidos, sussurros
engôdo profundo,
notas guardadas
no fundo do bolso,
gastas em estudos da
vida drogada,
desmaios no corpo
picadas no braço,
miúdos, graúdos
Homens desgraçados.
sorrisos de Deus
brincando com leis
em jeito de gozo
puxando cordeis,
empilhando carros
enchendo bordéis!

Joaquim Salgueiro

domingo, 29 de março de 2009

Loucura

minha eterna loucura
vejo te como demência
minha e das ruas
dos centros paroquiais que te proclamam
de drogados que te amam
jovens doentes que violas
e velhos senis que te pedem,
quase a chorar,
que não te vás embora.
Grito alto mensagem tua
(entre tremores por baixo da mesa
e olhares voltados
para os olhares atrás de mim)
estou falido de amor louco
estou louco da amor por ti.

Chego agora a implorar um golpe
por momentos de maior lucidez
que haja justiça
e que a história não se acabe sem fim.

Joaquim Salgueiro

sexta-feira, 27 de março de 2009

O mundo num segundo

Um mundo,
imaginemos
o mundo num segundo
paralelo,
vagas de vidas
bichos da sida
fome no prato
e nem tábua se come com a mão
não há mão
um dia, foi comida em vez de pão.
um segundo e lá vai ele
entristecido
onde Deus o colocou
perdido
olhos esbugalhados na natureza
de mulheres sem saia
com rabiscos de tinta branca
no corpo vencido,
com papel demais gasto
traços de coca
e talvez heroína.
Agora, suponhamos
mente séria e adormecida
que mundo padece num segundo?

(olha a vida
mais pobre e puta
que vencida,
olha-me esta pele
de tanto uso corroída
mete-me aqui os olhos
sua vadia,
não te desvies
hoje morro mas sonho contigo)

Joaquim Salgueiro

canto de reflexão

olho de frente
e não vejo palavra
vejo letra,
vejo fumo
penso tudo
e não há nada
desvio e já não minto
outro caminho
outro destino
olho mar
sonho paraíso
sou mais anjo
detenho o poder do juízo.

e pelo momento
que acho nocivo à mente
falo para mim e digo
quem me dera nunca me ter lido.

Joaquim Salgueiro

segunda-feira, 23 de março de 2009

O que afinal sou

sou alegria

sou jovem enternecedor

véu com véu por cima

sou mágico que

encerra magia

sou fogo em corpo de rapariga

a voz no eco do país

moeda perdida

capa estendida e serenata

em varanda de menina.

lobo velho desconfiado

idoso em esquina

polícia armado

sou cantor, escritor, terrorista

de amor

sou mais santo

que santo de minha terra

virgem puro

puritano corredor

ignorante orador

sou mais e mais calor

numa pele sensível

sou ardor

água limpa suja

de nada

sou vazio e sou

granada

colisão de madrugada

sou cego

surdo e mudo

e sou

por final

mudança do meu estado

num estado de

tudo menos esperança.


Joaquim Salgueiro

Poetas de rua

Numas linhas
o poeta sobe rua
e calçada acima
mal trabalha
mal se rima
sobe montes e sobe vales
voa céus
e sonha estrelas
diabo nas veias
e tinta na língua
proclama a rua escrita
pedra a pedra
(pedras malditas).

que angústia que prazer
que ternura
e loucura sonha
o poeta
vive escrito
morre maneta,
sua mágica eterna caneta
só a Deus na sua
santíssima divindade pertence
lá vão os grandes poetas descrentes
oh senhores
trotineta dos céus
em sonetos sermões e mais talvez
os capítulos da vida
do grandioso calor
nas costas sentido.

não se pense,
por favor,
que senhor Deus não tenha lugar
para homens tão sábios
eternos escritores
a seu lado, escrevem a ele
mas descrentes de qualquer
salpico de bondade
não perdem tempo,
sabem o destino de suas palavras
à frente, costas viradas
calças em baixo.

Joaquim Salgueiro

sábado, 21 de março de 2009

O meu (pequeno) desabafo.

sinto o calor
do fogo na escrita
e o ardor nos dedos
que me impede de mais alto sonhar,
sonho por isso contigo
e assim vou continuar,
amanhã talvez volte a sonhar
talvez acabe aqui até acabar,
só queria saber até
quando esta loucura vai continuar
será que morro, será que choro?

(de repente chegou
a noite e com ela
a alma apagou de frio.
Valeu a pena,
toque nulo, beijo crasso
ausento-me
e tua falta,
valeu... remorso
controverso e minha calma,
teu amor
acabou.)

Joaquim Salgueiro

domingo, 8 de março de 2009

mais uma noite em coimbra

da manhã salta à vista
a praça e a desgraça
de partidos
fundados, já vencidos,
arruinados
com suas lágrimas divididas
têm grito, alma e sida
têm voz, álcool
(e alguns) heroína.
de manha são as ruas limpas
e as garrafas partidas
beatas são varridas
os copos (mares de copos)
são vísiveis, mas como senhoras
da vida,
escondem-se com a luz do dia.

chega à noite e recomeça,
enfim
mais uma noite em coimbra.

joaquim salgueiro

2ª certeza

Haverá algo para além
da tua imagem?
Sonho mais perfeito,
Pensamento mais impossivel
que não te ter?
Quererei demais tua alma
e beberei cada uma das palavras
que me disseres.
Amar-te é vida
Olhar-te é sentido,
É base e sem ti,
Há a ferida que me destrói.
Não quero, posso sonhar
o pesadelo de nao te ter,
mas nao te perco.Não te posso perder.

Joaquim Salgueiro

sábado, 14 de fevereiro de 2009

levemente perfumado.

Passaste-me ao lado
da consciência
devastada, por ti só
acompanhada seguramente,
mente o corpo alma e mente
a todas as chamadas
seguro-me a leme fechado
tal olhos , perfume à boca
e álcool em pasta no caminho,
um sozinho, outro acompanhado.

Cheiro intenso
de corpo perfumado
mar revolto e destronado
portefólio de vidas amargas
torrentes entre entes abandonados
bando campo subtil estragado
confundido, devastado.

Joaquim Salgueiro

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma ausência cruzada.

Do nada veio a tua imagem,
clara, por mim amada,
sofrida, a dor que origina,
tal dor...
que mói o corpo,
Serra a mente, mata o morto.
A dor, a tua dor por mim sentida,
vi-te madrugada, sinto-te adomecida,,
nos meus braços, nus, queridos,
tal carinho meu amor,
Voaste daqui embora
e embora não me digas,
sei que sofres, tal dor a minha.

Agora e do nada,
lá longe, enovoada,
não suspiras,
não me falas,
e a tua ausência, cruzada,
trespassa coração e alma,
palavra errada.
Espera
que morri, meu amor.

Joaquim Salgueiro

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Folha 2

Devagar, suspiro fundo. Já lá vai o tempo em que suspirava entre palavras, isso era antes, agora suspiro murmúrios e falo a murmurar. Penso em cada palavra com a vida, mas não a vivo, isso fica para quem me está a olhar. Falo de frente, falo apressado, expressivo e com olhar, marco presença. Mas tu... onde tu estás? Ouvi antes palavras lidas e não me contive, cruzei braços e parei, a mente caiu ao fundo. Lá no fundo, onde o mundo continuava a circular e , entre mendigos, algum se há-de preocupar. Levantar não era opção, que stress aquele, que explosão.

Rompeu-se uma lágrima e fugiram as outras. Quanto à mesa onde estava, de tanta água (ou mágoa, talvez) ficou lavada.

Volto ao presente e os olhos lá ao fundo brilham, mas que gente, que gente esta que me extingue. Não me levanto outra vez enquanto não estiveres aqui.

Joaquim Salgueiro.

sábado, 24 de janeiro de 2009

35 anos passados...

De preso firme
a peso morto,
Sou tal passagem,
sou mais alma que transição,
Preso de corpo,
Morto ileso.
E não há grito
de boca fechada,
Calças cosidas
não abrem rachas
e fugas com peito à vista
são tiros certos, alvos
fáceis da vizinha proibição.
Cantou, partiu mais um,
entre tantos outros,
(que falta fazem!)
e aqui engaiolado canto tristo,
assobio, por assim dizer,
cantar foram tempos antigos,
chorar são tempos modernos.

Joaquim Salgueiro

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Medo de mim - Folha 1

Tudo escuro. Escuro o quarto onde me enconto, escuro o fundo de estrelas invisíveis, escuro o redondo da mesa ao fundo do corredor, escuro eu até à alma. Não sorrio por entre dentes, não choro lágrimas aquecidas por uma perda tão minha que é a tua. Não vás embora, numa noite destas, a tua voz é droga e eu, viciado em heroína. Não deixes tanto pedaço de mim à deriva. Se alguma vez deixares irão dar com o meu corpo num rio. A minha alma, no inferno. E que medo, oh que medo! Que medo tenho de te perder (tanto o tenho que já te perdi...), que sonho, que sonho o teu sussurrar no meu ouvido e que mulher és tu para mim. Mulher, senhora, mãe, irma, amiga. Estás bem ao meu lado, sinto a tua mão, sinto-a tão perto que quando me tocares vou sorrir. Até lá, esperarei.

Ainda choro sozinho no quarto. Lá no fundo, no canto onde costumamos falar, sabes, a cadeira com a vela-cinzeiro (decidi inventar esta palavra tão pouco original devido ao que fazes) à tua frente. Agora, está vazia. Nunca mais parei em tal varanda, nem mesmo nos dias solarengos em que sabe tão bem observar o vale. Agora, sabe a amargo.

A casa tem agora menos uma divisão... o teu quarto deixou de existir, não porque mexemos nele (se mexessemos, ai, o quão furiosa ficarias!) mas porque deixou de estar na rota da casa. Tem um grande x na planta, ou pelo menos, na minha planta. Não tem sentido se não o utilizas, não é? E além disso, sei que me estás a ver, à espera que entre no teu quarto para me poder chamar de cusco... Querias! Não vou ceder, não te dou esse prazer. Só se não fores embora esta noite, tenho medo de a passar sozinho.

Ainda me ouves? Preciso agora de um conselho, sim , porque és conselheira profissinal não remunerada pela minha parte (e pelas outras todas, mas essas, não falam contigo agora). Aconselha-me, mas seriamente, fico contigo ou deixo-te partir?

Joaquim Salgueiro, 20 de Janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O baixo do alto.

Leviano, o meu sorriso,
Numa rua de paralelos soltos
com olhares de pedra moveis
e calhaus envoltos.
Sentado em cada esquina
anda um senhor pedinte
que pede demasiado para viver
(No fim morre de desgosto)
E num alto de picos imaginados
onde vultos melancólicos caminham,
sobrevoo a vista cega de tantos eles...
E que a falta de visão não me falte
quando estes ouvirem algo.
Que não sofram de solidão cínica
ou de honestidade anímica.

Em que ponto estou eu?
Qual fósforo queimo,
Qual chama me deito e ajeito,
Mundo, não te magoes mais.

Joaquim Salgueiro.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Senhora (de um coração)

Do nada surge o meu amor,
com segredos, beijos em poemas,
Desejava poder ter e reter
tudo o que passamos,
tudo o que amamos demais,
e por demais te digo,
não serão precisas horas,
não serão, só estarão no meu relógio,
teu coração. Quando parar,
pararei eu também de paixão,
o lume do mistério, meu mistério
tua perdição,
terá água, e a água
veneno.
No entanto, não há medos,
receios, não há refúgios,
lágrimas, fugiram da minha cara,
senhora, és agora felicidade.

Joaquim Salgueiro

domingo, 4 de janeiro de 2009

O monólogo da loucura.

Simplesmente
deixei de ser simples,
Ataco-me, mordo-me
Quero a minha vida por prazer,
Não domo, não me domo a mim
Grito alto, choro sem fim
Muitas mulheres,
vieram e quiseram,
Umas não,
Outras tiveram.
Tiveram ou estiveram
porque não me tinham a mim,
Nem eu me tenho
Só o sonho sonha alto,
Só eu sinto e me rebaixo.
Por mim, chego ao fim,
Quanto ao fim...
Esse não me quer.

Joaquim Salgueiro