terça-feira, 25 de maio de 2010

eu trino.

O céu, negro que dói,
faz me chorar sentado,
tronco nu numa cadeira de plástico
choro sozinho,
choro sem lágrimas que transpontem
a tinta que me mancha o papel.

A noite é calma,
tirando o vento que não se cala,
as aves que acasalam,
os cães que jogam uma sueca
em casotas mobiladas,
bichos da noite gritam impropérios
a Deus por este o já os ter feito almas.
A noite é calma,
pois não acalma mais que isto.

O sangue que me saiu dos pulsos
enche de vermelho a sala,
qual pintura, qual dourada talha,
casa de poucos luxos,
sala de vermelho rabiscado.
Qual sala, qual janela, porta ou varanda,
ainda na cave jorro sangue
e já me rouba a alma o Diabo.

(sou nada mais que o choro,
a noite e sangue conjugado,
morri para a vida e ressuscito frustrado,
estou, além de triste, desapontado,
a vida é simples e eu complicado.
Onde pertenço? fico boiando na cave,
enquanto me ouço e olho. todo eu sou
negro, preto e encarnado. Todo
eu já fui. Todo eu cá estou.)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Demência do poeta frustrado

Tenho a minha alma em papel queimado.
Todos os riscos foram apagados
e os traços esquecidos,
a tinta que correu em branco
faleceu com o espelho das emoções
do poeta frustrado.

Tenho a minha vida inacabada.
Só resta a cinza dos rascunhos guardados,
só as caixas ainda fechadas
que a idade nunca abriu.

Tenho o que tiver não sendo nada,
só o cheiro do quarto escuro afumarado
que delicia o cérebro psicopata
do meu garoto fantasma. Olhos
no vazio e voz ruidosamente muda. Tenho
a minha mente
embora louca,
demente.

Joaquim Salgueiro