sábado, 24 de janeiro de 2009

35 anos passados...

De preso firme
a peso morto,
Sou tal passagem,
sou mais alma que transição,
Preso de corpo,
Morto ileso.
E não há grito
de boca fechada,
Calças cosidas
não abrem rachas
e fugas com peito à vista
são tiros certos, alvos
fáceis da vizinha proibição.
Cantou, partiu mais um,
entre tantos outros,
(que falta fazem!)
e aqui engaiolado canto tristo,
assobio, por assim dizer,
cantar foram tempos antigos,
chorar são tempos modernos.

Joaquim Salgueiro

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Medo de mim - Folha 1

Tudo escuro. Escuro o quarto onde me enconto, escuro o fundo de estrelas invisíveis, escuro o redondo da mesa ao fundo do corredor, escuro eu até à alma. Não sorrio por entre dentes, não choro lágrimas aquecidas por uma perda tão minha que é a tua. Não vás embora, numa noite destas, a tua voz é droga e eu, viciado em heroína. Não deixes tanto pedaço de mim à deriva. Se alguma vez deixares irão dar com o meu corpo num rio. A minha alma, no inferno. E que medo, oh que medo! Que medo tenho de te perder (tanto o tenho que já te perdi...), que sonho, que sonho o teu sussurrar no meu ouvido e que mulher és tu para mim. Mulher, senhora, mãe, irma, amiga. Estás bem ao meu lado, sinto a tua mão, sinto-a tão perto que quando me tocares vou sorrir. Até lá, esperarei.

Ainda choro sozinho no quarto. Lá no fundo, no canto onde costumamos falar, sabes, a cadeira com a vela-cinzeiro (decidi inventar esta palavra tão pouco original devido ao que fazes) à tua frente. Agora, está vazia. Nunca mais parei em tal varanda, nem mesmo nos dias solarengos em que sabe tão bem observar o vale. Agora, sabe a amargo.

A casa tem agora menos uma divisão... o teu quarto deixou de existir, não porque mexemos nele (se mexessemos, ai, o quão furiosa ficarias!) mas porque deixou de estar na rota da casa. Tem um grande x na planta, ou pelo menos, na minha planta. Não tem sentido se não o utilizas, não é? E além disso, sei que me estás a ver, à espera que entre no teu quarto para me poder chamar de cusco... Querias! Não vou ceder, não te dou esse prazer. Só se não fores embora esta noite, tenho medo de a passar sozinho.

Ainda me ouves? Preciso agora de um conselho, sim , porque és conselheira profissinal não remunerada pela minha parte (e pelas outras todas, mas essas, não falam contigo agora). Aconselha-me, mas seriamente, fico contigo ou deixo-te partir?

Joaquim Salgueiro, 20 de Janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O baixo do alto.

Leviano, o meu sorriso,
Numa rua de paralelos soltos
com olhares de pedra moveis
e calhaus envoltos.
Sentado em cada esquina
anda um senhor pedinte
que pede demasiado para viver
(No fim morre de desgosto)
E num alto de picos imaginados
onde vultos melancólicos caminham,
sobrevoo a vista cega de tantos eles...
E que a falta de visão não me falte
quando estes ouvirem algo.
Que não sofram de solidão cínica
ou de honestidade anímica.

Em que ponto estou eu?
Qual fósforo queimo,
Qual chama me deito e ajeito,
Mundo, não te magoes mais.

Joaquim Salgueiro.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Senhora (de um coração)

Do nada surge o meu amor,
com segredos, beijos em poemas,
Desejava poder ter e reter
tudo o que passamos,
tudo o que amamos demais,
e por demais te digo,
não serão precisas horas,
não serão, só estarão no meu relógio,
teu coração. Quando parar,
pararei eu também de paixão,
o lume do mistério, meu mistério
tua perdição,
terá água, e a água
veneno.
No entanto, não há medos,
receios, não há refúgios,
lágrimas, fugiram da minha cara,
senhora, és agora felicidade.

Joaquim Salgueiro

domingo, 4 de janeiro de 2009

O monólogo da loucura.

Simplesmente
deixei de ser simples,
Ataco-me, mordo-me
Quero a minha vida por prazer,
Não domo, não me domo a mim
Grito alto, choro sem fim
Muitas mulheres,
vieram e quiseram,
Umas não,
Outras tiveram.
Tiveram ou estiveram
porque não me tinham a mim,
Nem eu me tenho
Só o sonho sonha alto,
Só eu sinto e me rebaixo.
Por mim, chego ao fim,
Quanto ao fim...
Esse não me quer.

Joaquim Salgueiro