sábado, 31 de julho de 2010

O que se ganhou Feio...

Quem não brinca
nunca antes brincou,
e se não ri, nunca o exprimentou,
quem não sente a treta,
nunca te viu.

Nunca direi Feio em voz alta,
mas por debaixo da cama
onde o filme está guardado,
treta de sobra
toda espalhada. O riso ficou
na caixa, a treta no caixão,
a vida continua igual...

Talvez nunca vás embora,
embora às vezes seja preciso,
quanto homem foste, quantos risos
fizeste sair. Verdade,
nem o riso do planeta inteiro
te iria fazer parar. O que se perdeu
já lá vai, o pior foi o que se ganhou.
Saudade Feio, muita saudade...

Joaquim Salgueiro

Talvez um dia me sente, finalmente, em frente ao palco dele. Um génio. (1954-2010)


Mais vale escrever

Falta a vontade,
por vezes, só às vezes,
a necessidade de escrever.
Falta a coragem
e o debater,
falta o amor, por vezes a dor,
falta tudo e o mundo
a ver.

Onde já fui?
Porque pensam as crianças
no mal que lhes fiz,
falta-lhes mãe, o pai
também,
e então choram, já nem sei
bem por quem...

Infestei o mundo de poesia
com versos jogados da janela fora,
falta-me inspiração,
falta-me o norte...

Nem o mar, nem o cheiro
a maresia, as ervas que infestam
o caminho já não chegam.
Por isso escrevo, por não saber
que mais fazer.
Afinal, desiludir é sofrer,
e enquanto rasgo pedaços
de uma estrofe metricamente deformada,
escrevo nas paredes,
sofrer por sofrer... ai amor,
mais vale escrever.

Joaquim Salgueiro