domingo, 8 de agosto de 2010

atirei-o do prédio a baixo

atirei-o do prédio a baixo,
onde já cheirei mil vezes
a almofada que não tem cheiro,
e desembrulhei, sempre lento,
prendas que estão num quarto vazio,
sem luz, sem prendas, sem luz
e muito menos prendas...

atirei-o com força,
para não poder voar de volta,
ou passar pelas grades que
me impedem a mim de planar.
muita força, tanta que senti,
tão de repente, um baque mesmo entre mãos...

olho-te do prédio de um andar
que construí sozinho, em tempos,
há muito tempo atrás,
sem ajuda, por mim só,
estou tão sozinho... até a mim me meto dó,
sem um pequeno empurrão,
só eu te contruí, sim, falo
para ti prédio, só eu te vejo
na minha imaginação...

está no fim, por fim, chega ao final,
a rua que existe
mas existe mal
mostra-me o coração
no fundo da rua,
partido,
e sei que não o posso recuprar,
foi embora e não voltou a voar...
foi embora... foi...

Joaquim Salgueiro

O dia em que a caravana passou

Venham, venham todos!
Chegou o mestre encenador
a caravana e o animal pintor
o teatro está na cidade!
O espectáculo o drama e cor
risos e improvisos
faltas de atenção ou espectadores
subam, olhem a altura do actor
o beijo e o sangue derramado
da faca que especta sem dor!
Arregalem a vista
se podem ver não hesitem
tal cenário não é para todos
estão cá vacas, cabras e cabr...
ões, ratos nos bastidores
e pedaços de tecto no chão.
Sonhem! Alcancem estrelas
planetas até o sol! Fujam
por vielas e evitem violações!
Rápido
Rápido
Arde o teatro e a caravana,
arde o cão o bispo e a rata que
está com ele
os homens
as mulheres
Ai, peça infernal
que demoniza gentes e multidões!

Esqueçam, passou a caravana
seguiu e deixou um resto de perfume
que fará lembrar
o dia que o poeta nas ruas gritou:
"Venham, venham todos!"

Joaquim Salgueiro