quinta-feira, 9 de julho de 2009

Uma parte do aparte

Passa horas a debater-se
entre a cerveja
o povo de portugal
ou uma garrafa de vinho partida
que estilhaçada
há-de cortar alguma jovem descalça
que foge do namorado em plena rua
gritando mais ao céu
do que às pessoas
"Ajuda!" - essa não vem dos céus, nem das pessoas,
ou são cegas ou são surdas
burras não podem,
o fiasco que vai em casa só
se deve ao necessário gasto
nas "desnecessariadades" da vida,
putas e comida
(por exemplo, se só ficássemos por aqui...)
e enquanto dos céus vem ajuda divina
nós rezamos, pedindo
que chova ouro em vez
daquilo a que chamo tinta
(de água já não tem nada)
e, se não acharem pedir demais,
que mate mais uns quantos,
com novas gripes
ou "tiróidites saltitantes agudas - tipo XPTO",
assim, sempre alguma comida sobrará.

Chega-se ao fim do debate e conclui-se
será nesta escuridão
que se ilumina Portugal?

Joaquim Salgueiro

1 comentário:

Tua, Inês . disse...

És sensacional E este poema não é mais do que um retrato disso! Gostei mesmo muito e não cito apenas um pedacinho pois cada verso é digno de elogio. O mundo devia e vai ler-te, para mim já elevas-te ao estatuto 'poeta', mas quem sou eu no mundo? Apenas alguém que te lê, daqui a uns anos haverão milhões como eu. Acredito nisto e principalmente acredito em ti.

Amote.