quarta-feira, 24 de junho de 2009

Diário do nosso amor. (2ª folha)

"Meu amor,

Entrou em mim agora outra necessidade que não posso apelidar de estranha por ser simplesmente tão constante de te escrever. E não consigo descrever mais o que sinto se já levei à exaustão o meu amor poetizado, mas a força que move montanhas também há-de mover um pequenino como eu. Preciso de te dizer que virão momentos maus. Como não poderiam vir? Se não viessem não tinham valor todos os outros tão extraodinários que temos. Seriam banalizados ao ponto de lhes chamar-mos normais. Não são. Cada pedaço de mim pede para te fazer mais feliz a cada momento, e cada pedaço de mim que consegue sorri. Os outros não morrem, não, pelo contrário, mais se esforçam para atingir uma perfeição inantigível que se torna possível a teu lado. A teu lado o mundo tem asas, e eu fico cá em baixo, bem de longe, olhando pasmo e apaixonado a beleza que ele me revela, beleza essa só descoberta por ti. De facto mudei meu amor... Nunca mais quis estar sozinho no mundo, nunca mais consegui. Tornas-te a minha primeira casa, com quarto especial para nós os dois, onde o meu coração mora e palpita, por ti e em ti. Amo-te hoje.
Amanhã será igual.

Teu,
Joaquim Salgueiro"

segunda-feira, 15 de junho de 2009

país sem nome

apresenta-me o mundo,
desconhecido,
com esse teu olhar
de vazio na face
a expressão de nada no corpo
e a tua alma
esmagada que sinto no vento forte,
leva-me a vaguear à noite
por este país sem nome
com criatividade absurda
e espasmos de loucura
este país de artistas e engenheiros
e senhoras com banqueiros
de povo morto antes de nascido
e lembrado do
há muito vivido mar,
estas cidades desertas
e bancos de jardim por esvaziar
discotecas cheias
e clubes de strip a abarrotar,
onde igrejas enchem pessoas
e padres cegam a vida
de crianças empobrecidas
país este desconhecido
ao outro mundo além do normal
com escolas
que penetram vidas
e destroem monstros temidos,
analfabetismo
(pena estas escolas
serem fantasia)
onde as urnas têm bombas
(como poderiam não ter ?
o povo não quer votar)
e outro desconhecido sem nome
morre de overdose
numa valeta citadina
ou numa casa rural.
leva-me, desconhecido,
e no fim
(sim, estou a implorar)
diz que afinal
sou apenas eu a sonhar.

Joaquim Salgueiro.

sábado, 13 de junho de 2009

Diário do nosso amor. (1ª folha)

"Meu amor.

Passam hoje incontáveis dias a teu lado. O ar continua na mesma, o cheiro (teu cheiro) permanece em mim, e a tua voz está no ouvido, incansavelmente se repete entre sussurros apaixonados. A tua alma continua em mim, e a tua imagem deu-me a imaginação de criar uma deusa. Cada sorriso que me passa pela cara reflecte-se no meu interior e cada momento que revivo incessantemente parece cada vez melhor contigo. Não, peço perdão, melhor será o próximo. E haverão eternos próximos. Parei no tempo e não vou crescer mais, a não ser que me agarres a mão e me puxes. Contigo irei ao futuro, sempre que assim o desejares. E quando o futuro for presente, haverá mais. É quando olho esta janela de paixão que o sangue pulsa nas veias e a respiração aperta, o efeito borboleta passa a ter apenas significado no meu interior e , que nem gato, ronrono lentamente com uma vontade imensa de saltar todo e qualquer muro. A vida não tem barreiras sufucientes para me deter de ti. Passarei cada momento nos teus olhos e quando não puder mais suspirar (por tanto o ter feito antes) , chorarei lágrimas de euforia. Euforia, meu amor. Hoje posso-te prometer que te amo.
Amanhã direi o mesmo.

Teu,
Joaquim Salgueiro "

o mais simples.

Valham-me as estrelas
e os sonhos
o sol e o mundo
valham-me as crianças
e o fogo
o calor e o abrigo
valham-me as noites
e os dias
valha-me a vida,
e o meu amor.
tudo o resto está perdido.

(sem ser poema que mereça esse nome, nem tudo o que passa pela vida é belo e complexo. nem tudo o que se quer está assim tão longe e nem toda a perfeição existe. aliás, creio que nenhuma existe.)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

haja noite todo o dia.

é noite
e a polícia faz mais uma rusga
um drogado morre
e um político geme na sua cama
(pagando luxo com dinheiro contribuinte)
ouvem-se tiros
e o bairro grita
as mães correm para ver os filhos
trazendo uma moldura de família,
o que resta da casa

está partido.
é noite de serem vidas destruídas
putas passarem sida
e miúdas
de decotes e fio dental em cima
se abrirem com um doutor ao virar da esquina
(daqui a um mês será noite de chacina)
e crianças pequeninas
sonharem o mundo sozinhas
perfeito, utópico
mundo de fantasias.

chego ao fim e só penso,
amanha será igual.

Joaquim Salgueiro

quarta-feira, 3 de junho de 2009

quadro da mente.

o dia está morto
e o meu corpo torto
em sofá antigo alheio
e a alma
num canto despedaçada
entre estilhaços
mãos trémulas que lhe pegam
alma fraca descolada
uma vez deifeita
nunca mais reparada.
o dia está morto e parado
e os pássaros não cantam
o mundo parou
e a minha mente já não mente
as flores têm esta cor diferente
uma cor cor-de-nada
o ar cheira a vazio
e o mar continua sem sabor
o vento aquece o dia de verão
e a chuva não supera as minhas lágrimas
o chão está impregnado
de álcool
que tem o aspecto característico
de mais uma morte na estrada.

levanto a cabeça
e verifico
ou o tempo parou
ou a vida está toda igual.

Joaquim Salgueiro

terça-feira, 2 de junho de 2009

terça feira. a ultima terça feira.

um dia
vou te escrever
e relatar-te
sussurrar-te
enquanto
com a alma te percorro o corpo
o meu olhar neste teu dia,
em que por ti
demais por ti
choro de tristeza e alegria
choro de amor
choro da vida
choro por fraco e por vencido
choro por mim.

O teu amor nunca irá. O meu nunca morrerá.

Joaquim Salgueiro. (choro o tempo, o espaço e o vento. o que nunca quererei que tenha passado)

terça-feira, 26 de maio de 2009

Foto do hoje.

é de tarde
e os olhos fotografam
cabelos de sereia ao vento
longos, perfeitos
está o poço sem fundo
dos teus olhos nos meus
e o calor que emanas tão forte
de amor por amor se move
tirada foto a régua e esquadro
e desenho
uma aguarela pintada
sei que em memória que não se esbate
um dia não são dias
e o dia é sempre de te amar.
Joaquim Salgueiro

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Intenso. Amor. Gostar Ferozmente.

só no céu te poderei ver
e um dia
em terra (uma terra)
sonherei escrever
descrever o paraíso
da face branca morena castanha
que a minha alma
(por dentro felina)
tem no momento de ser.
não sofre e não sente
e escrevo o presente
com teu nome no peito
e gritando coração ao mundo
"és a vida, és o centro!"
e de repente tal instante
orgulhoso com a certeza de o ser
meu amor paixão querer...
(toda a vida
perfeição de mulher.)

Joaquim Salgueiro. (Ines Alexandra Gonçalves Fernandes)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ao jeito de intervenção.

com marcos de história
e sortes macabras,
destinos traçados
vestidos rasgados,
rios de sangue
vermelho amargo,
branco mais sujo
homens malvados,
meninos perdidos
em camas deixados,
estendidos em braços
nas morgues largados.

lacrimejar ódio
moder o amor,
lá fora a vida
e polícias na rua.
pedidos, sussurros
engôdo profundo,
notas guardadas
no fundo do bolso,
gastas em estudos da
vida drogada,
desmaios no corpo
picadas no braço,
miúdos, graúdos
Homens desgraçados.
sorrisos de Deus
brincando com leis
em jeito de gozo
puxando cordeis,
empilhando carros
enchendo bordéis!

Joaquim Salgueiro

domingo, 29 de março de 2009

Loucura

minha eterna loucura
vejo te como demência
minha e das ruas
dos centros paroquiais que te proclamam
de drogados que te amam
jovens doentes que violas
e velhos senis que te pedem,
quase a chorar,
que não te vás embora.
Grito alto mensagem tua
(entre tremores por baixo da mesa
e olhares voltados
para os olhares atrás de mim)
estou falido de amor louco
estou louco da amor por ti.

Chego agora a implorar um golpe
por momentos de maior lucidez
que haja justiça
e que a história não se acabe sem fim.

Joaquim Salgueiro

sexta-feira, 27 de março de 2009

O mundo num segundo

Um mundo,
imaginemos
o mundo num segundo
paralelo,
vagas de vidas
bichos da sida
fome no prato
e nem tábua se come com a mão
não há mão
um dia, foi comida em vez de pão.
um segundo e lá vai ele
entristecido
onde Deus o colocou
perdido
olhos esbugalhados na natureza
de mulheres sem saia
com rabiscos de tinta branca
no corpo vencido,
com papel demais gasto
traços de coca
e talvez heroína.
Agora, suponhamos
mente séria e adormecida
que mundo padece num segundo?

(olha a vida
mais pobre e puta
que vencida,
olha-me esta pele
de tanto uso corroída
mete-me aqui os olhos
sua vadia,
não te desvies
hoje morro mas sonho contigo)

Joaquim Salgueiro

canto de reflexão

olho de frente
e não vejo palavra
vejo letra,
vejo fumo
penso tudo
e não há nada
desvio e já não minto
outro caminho
outro destino
olho mar
sonho paraíso
sou mais anjo
detenho o poder do juízo.

e pelo momento
que acho nocivo à mente
falo para mim e digo
quem me dera nunca me ter lido.

Joaquim Salgueiro

segunda-feira, 23 de março de 2009

O que afinal sou

sou alegria

sou jovem enternecedor

véu com véu por cima

sou mágico que

encerra magia

sou fogo em corpo de rapariga

a voz no eco do país

moeda perdida

capa estendida e serenata

em varanda de menina.

lobo velho desconfiado

idoso em esquina

polícia armado

sou cantor, escritor, terrorista

de amor

sou mais santo

que santo de minha terra

virgem puro

puritano corredor

ignorante orador

sou mais e mais calor

numa pele sensível

sou ardor

água limpa suja

de nada

sou vazio e sou

granada

colisão de madrugada

sou cego

surdo e mudo

e sou

por final

mudança do meu estado

num estado de

tudo menos esperança.


Joaquim Salgueiro

Poetas de rua

Numas linhas
o poeta sobe rua
e calçada acima
mal trabalha
mal se rima
sobe montes e sobe vales
voa céus
e sonha estrelas
diabo nas veias
e tinta na língua
proclama a rua escrita
pedra a pedra
(pedras malditas).

que angústia que prazer
que ternura
e loucura sonha
o poeta
vive escrito
morre maneta,
sua mágica eterna caneta
só a Deus na sua
santíssima divindade pertence
lá vão os grandes poetas descrentes
oh senhores
trotineta dos céus
em sonetos sermões e mais talvez
os capítulos da vida
do grandioso calor
nas costas sentido.

não se pense,
por favor,
que senhor Deus não tenha lugar
para homens tão sábios
eternos escritores
a seu lado, escrevem a ele
mas descrentes de qualquer
salpico de bondade
não perdem tempo,
sabem o destino de suas palavras
à frente, costas viradas
calças em baixo.

Joaquim Salgueiro

sábado, 21 de março de 2009

O meu (pequeno) desabafo.

sinto o calor
do fogo na escrita
e o ardor nos dedos
que me impede de mais alto sonhar,
sonho por isso contigo
e assim vou continuar,
amanhã talvez volte a sonhar
talvez acabe aqui até acabar,
só queria saber até
quando esta loucura vai continuar
será que morro, será que choro?

(de repente chegou
a noite e com ela
a alma apagou de frio.
Valeu a pena,
toque nulo, beijo crasso
ausento-me
e tua falta,
valeu... remorso
controverso e minha calma,
teu amor
acabou.)

Joaquim Salgueiro

domingo, 8 de março de 2009

mais uma noite em coimbra

da manhã salta à vista
a praça e a desgraça
de partidos
fundados, já vencidos,
arruinados
com suas lágrimas divididas
têm grito, alma e sida
têm voz, álcool
(e alguns) heroína.
de manha são as ruas limpas
e as garrafas partidas
beatas são varridas
os copos (mares de copos)
são vísiveis, mas como senhoras
da vida,
escondem-se com a luz do dia.

chega à noite e recomeça,
enfim
mais uma noite em coimbra.

joaquim salgueiro

2ª certeza

Haverá algo para além
da tua imagem?
Sonho mais perfeito,
Pensamento mais impossivel
que não te ter?
Quererei demais tua alma
e beberei cada uma das palavras
que me disseres.
Amar-te é vida
Olhar-te é sentido,
É base e sem ti,
Há a ferida que me destrói.
Não quero, posso sonhar
o pesadelo de nao te ter,
mas nao te perco.Não te posso perder.

Joaquim Salgueiro

sábado, 14 de fevereiro de 2009

levemente perfumado.

Passaste-me ao lado
da consciência
devastada, por ti só
acompanhada seguramente,
mente o corpo alma e mente
a todas as chamadas
seguro-me a leme fechado
tal olhos , perfume à boca
e álcool em pasta no caminho,
um sozinho, outro acompanhado.

Cheiro intenso
de corpo perfumado
mar revolto e destronado
portefólio de vidas amargas
torrentes entre entes abandonados
bando campo subtil estragado
confundido, devastado.

Joaquim Salgueiro

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma ausência cruzada.

Do nada veio a tua imagem,
clara, por mim amada,
sofrida, a dor que origina,
tal dor...
que mói o corpo,
Serra a mente, mata o morto.
A dor, a tua dor por mim sentida,
vi-te madrugada, sinto-te adomecida,,
nos meus braços, nus, queridos,
tal carinho meu amor,
Voaste daqui embora
e embora não me digas,
sei que sofres, tal dor a minha.

Agora e do nada,
lá longe, enovoada,
não suspiras,
não me falas,
e a tua ausência, cruzada,
trespassa coração e alma,
palavra errada.
Espera
que morri, meu amor.

Joaquim Salgueiro