quinta-feira, 23 de abril de 2009

ao jeito de intervenção.

com marcos de história
e sortes macabras,
destinos traçados
vestidos rasgados,
rios de sangue
vermelho amargo,
branco mais sujo
homens malvados,
meninos perdidos
em camas deixados,
estendidos em braços
nas morgues largados.

lacrimejar ódio
moder o amor,
lá fora a vida
e polícias na rua.
pedidos, sussurros
engôdo profundo,
notas guardadas
no fundo do bolso,
gastas em estudos da
vida drogada,
desmaios no corpo
picadas no braço,
miúdos, graúdos
Homens desgraçados.
sorrisos de Deus
brincando com leis
em jeito de gozo
puxando cordeis,
empilhando carros
enchendo bordéis!

Joaquim Salgueiro

domingo, 29 de março de 2009

Loucura

minha eterna loucura
vejo te como demência
minha e das ruas
dos centros paroquiais que te proclamam
de drogados que te amam
jovens doentes que violas
e velhos senis que te pedem,
quase a chorar,
que não te vás embora.
Grito alto mensagem tua
(entre tremores por baixo da mesa
e olhares voltados
para os olhares atrás de mim)
estou falido de amor louco
estou louco da amor por ti.

Chego agora a implorar um golpe
por momentos de maior lucidez
que haja justiça
e que a história não se acabe sem fim.

Joaquim Salgueiro

sexta-feira, 27 de março de 2009

O mundo num segundo

Um mundo,
imaginemos
o mundo num segundo
paralelo,
vagas de vidas
bichos da sida
fome no prato
e nem tábua se come com a mão
não há mão
um dia, foi comida em vez de pão.
um segundo e lá vai ele
entristecido
onde Deus o colocou
perdido
olhos esbugalhados na natureza
de mulheres sem saia
com rabiscos de tinta branca
no corpo vencido,
com papel demais gasto
traços de coca
e talvez heroína.
Agora, suponhamos
mente séria e adormecida
que mundo padece num segundo?

(olha a vida
mais pobre e puta
que vencida,
olha-me esta pele
de tanto uso corroída
mete-me aqui os olhos
sua vadia,
não te desvies
hoje morro mas sonho contigo)

Joaquim Salgueiro

canto de reflexão

olho de frente
e não vejo palavra
vejo letra,
vejo fumo
penso tudo
e não há nada
desvio e já não minto
outro caminho
outro destino
olho mar
sonho paraíso
sou mais anjo
detenho o poder do juízo.

e pelo momento
que acho nocivo à mente
falo para mim e digo
quem me dera nunca me ter lido.

Joaquim Salgueiro

segunda-feira, 23 de março de 2009

O que afinal sou

sou alegria

sou jovem enternecedor

véu com véu por cima

sou mágico que

encerra magia

sou fogo em corpo de rapariga

a voz no eco do país

moeda perdida

capa estendida e serenata

em varanda de menina.

lobo velho desconfiado

idoso em esquina

polícia armado

sou cantor, escritor, terrorista

de amor

sou mais santo

que santo de minha terra

virgem puro

puritano corredor

ignorante orador

sou mais e mais calor

numa pele sensível

sou ardor

água limpa suja

de nada

sou vazio e sou

granada

colisão de madrugada

sou cego

surdo e mudo

e sou

por final

mudança do meu estado

num estado de

tudo menos esperança.


Joaquim Salgueiro

Poetas de rua

Numas linhas
o poeta sobe rua
e calçada acima
mal trabalha
mal se rima
sobe montes e sobe vales
voa céus
e sonha estrelas
diabo nas veias
e tinta na língua
proclama a rua escrita
pedra a pedra
(pedras malditas).

que angústia que prazer
que ternura
e loucura sonha
o poeta
vive escrito
morre maneta,
sua mágica eterna caneta
só a Deus na sua
santíssima divindade pertence
lá vão os grandes poetas descrentes
oh senhores
trotineta dos céus
em sonetos sermões e mais talvez
os capítulos da vida
do grandioso calor
nas costas sentido.

não se pense,
por favor,
que senhor Deus não tenha lugar
para homens tão sábios
eternos escritores
a seu lado, escrevem a ele
mas descrentes de qualquer
salpico de bondade
não perdem tempo,
sabem o destino de suas palavras
à frente, costas viradas
calças em baixo.

Joaquim Salgueiro

sábado, 21 de março de 2009

O meu (pequeno) desabafo.

sinto o calor
do fogo na escrita
e o ardor nos dedos
que me impede de mais alto sonhar,
sonho por isso contigo
e assim vou continuar,
amanhã talvez volte a sonhar
talvez acabe aqui até acabar,
só queria saber até
quando esta loucura vai continuar
será que morro, será que choro?

(de repente chegou
a noite e com ela
a alma apagou de frio.
Valeu a pena,
toque nulo, beijo crasso
ausento-me
e tua falta,
valeu... remorso
controverso e minha calma,
teu amor
acabou.)

Joaquim Salgueiro

domingo, 8 de março de 2009

mais uma noite em coimbra

da manhã salta à vista
a praça e a desgraça
de partidos
fundados, já vencidos,
arruinados
com suas lágrimas divididas
têm grito, alma e sida
têm voz, álcool
(e alguns) heroína.
de manha são as ruas limpas
e as garrafas partidas
beatas são varridas
os copos (mares de copos)
são vísiveis, mas como senhoras
da vida,
escondem-se com a luz do dia.

chega à noite e recomeça,
enfim
mais uma noite em coimbra.

joaquim salgueiro

2ª certeza

Haverá algo para além
da tua imagem?
Sonho mais perfeito,
Pensamento mais impossivel
que não te ter?
Quererei demais tua alma
e beberei cada uma das palavras
que me disseres.
Amar-te é vida
Olhar-te é sentido,
É base e sem ti,
Há a ferida que me destrói.
Não quero, posso sonhar
o pesadelo de nao te ter,
mas nao te perco.Não te posso perder.

Joaquim Salgueiro

sábado, 14 de fevereiro de 2009

levemente perfumado.

Passaste-me ao lado
da consciência
devastada, por ti só
acompanhada seguramente,
mente o corpo alma e mente
a todas as chamadas
seguro-me a leme fechado
tal olhos , perfume à boca
e álcool em pasta no caminho,
um sozinho, outro acompanhado.

Cheiro intenso
de corpo perfumado
mar revolto e destronado
portefólio de vidas amargas
torrentes entre entes abandonados
bando campo subtil estragado
confundido, devastado.

Joaquim Salgueiro

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma ausência cruzada.

Do nada veio a tua imagem,
clara, por mim amada,
sofrida, a dor que origina,
tal dor...
que mói o corpo,
Serra a mente, mata o morto.
A dor, a tua dor por mim sentida,
vi-te madrugada, sinto-te adomecida,,
nos meus braços, nus, queridos,
tal carinho meu amor,
Voaste daqui embora
e embora não me digas,
sei que sofres, tal dor a minha.

Agora e do nada,
lá longe, enovoada,
não suspiras,
não me falas,
e a tua ausência, cruzada,
trespassa coração e alma,
palavra errada.
Espera
que morri, meu amor.

Joaquim Salgueiro

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Folha 2

Devagar, suspiro fundo. Já lá vai o tempo em que suspirava entre palavras, isso era antes, agora suspiro murmúrios e falo a murmurar. Penso em cada palavra com a vida, mas não a vivo, isso fica para quem me está a olhar. Falo de frente, falo apressado, expressivo e com olhar, marco presença. Mas tu... onde tu estás? Ouvi antes palavras lidas e não me contive, cruzei braços e parei, a mente caiu ao fundo. Lá no fundo, onde o mundo continuava a circular e , entre mendigos, algum se há-de preocupar. Levantar não era opção, que stress aquele, que explosão.

Rompeu-se uma lágrima e fugiram as outras. Quanto à mesa onde estava, de tanta água (ou mágoa, talvez) ficou lavada.

Volto ao presente e os olhos lá ao fundo brilham, mas que gente, que gente esta que me extingue. Não me levanto outra vez enquanto não estiveres aqui.

Joaquim Salgueiro.

sábado, 24 de janeiro de 2009

35 anos passados...

De preso firme
a peso morto,
Sou tal passagem,
sou mais alma que transição,
Preso de corpo,
Morto ileso.
E não há grito
de boca fechada,
Calças cosidas
não abrem rachas
e fugas com peito à vista
são tiros certos, alvos
fáceis da vizinha proibição.
Cantou, partiu mais um,
entre tantos outros,
(que falta fazem!)
e aqui engaiolado canto tristo,
assobio, por assim dizer,
cantar foram tempos antigos,
chorar são tempos modernos.

Joaquim Salgueiro

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Medo de mim - Folha 1

Tudo escuro. Escuro o quarto onde me enconto, escuro o fundo de estrelas invisíveis, escuro o redondo da mesa ao fundo do corredor, escuro eu até à alma. Não sorrio por entre dentes, não choro lágrimas aquecidas por uma perda tão minha que é a tua. Não vás embora, numa noite destas, a tua voz é droga e eu, viciado em heroína. Não deixes tanto pedaço de mim à deriva. Se alguma vez deixares irão dar com o meu corpo num rio. A minha alma, no inferno. E que medo, oh que medo! Que medo tenho de te perder (tanto o tenho que já te perdi...), que sonho, que sonho o teu sussurrar no meu ouvido e que mulher és tu para mim. Mulher, senhora, mãe, irma, amiga. Estás bem ao meu lado, sinto a tua mão, sinto-a tão perto que quando me tocares vou sorrir. Até lá, esperarei.

Ainda choro sozinho no quarto. Lá no fundo, no canto onde costumamos falar, sabes, a cadeira com a vela-cinzeiro (decidi inventar esta palavra tão pouco original devido ao que fazes) à tua frente. Agora, está vazia. Nunca mais parei em tal varanda, nem mesmo nos dias solarengos em que sabe tão bem observar o vale. Agora, sabe a amargo.

A casa tem agora menos uma divisão... o teu quarto deixou de existir, não porque mexemos nele (se mexessemos, ai, o quão furiosa ficarias!) mas porque deixou de estar na rota da casa. Tem um grande x na planta, ou pelo menos, na minha planta. Não tem sentido se não o utilizas, não é? E além disso, sei que me estás a ver, à espera que entre no teu quarto para me poder chamar de cusco... Querias! Não vou ceder, não te dou esse prazer. Só se não fores embora esta noite, tenho medo de a passar sozinho.

Ainda me ouves? Preciso agora de um conselho, sim , porque és conselheira profissinal não remunerada pela minha parte (e pelas outras todas, mas essas, não falam contigo agora). Aconselha-me, mas seriamente, fico contigo ou deixo-te partir?

Joaquim Salgueiro, 20 de Janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O baixo do alto.

Leviano, o meu sorriso,
Numa rua de paralelos soltos
com olhares de pedra moveis
e calhaus envoltos.
Sentado em cada esquina
anda um senhor pedinte
que pede demasiado para viver
(No fim morre de desgosto)
E num alto de picos imaginados
onde vultos melancólicos caminham,
sobrevoo a vista cega de tantos eles...
E que a falta de visão não me falte
quando estes ouvirem algo.
Que não sofram de solidão cínica
ou de honestidade anímica.

Em que ponto estou eu?
Qual fósforo queimo,
Qual chama me deito e ajeito,
Mundo, não te magoes mais.

Joaquim Salgueiro.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Senhora (de um coração)

Do nada surge o meu amor,
com segredos, beijos em poemas,
Desejava poder ter e reter
tudo o que passamos,
tudo o que amamos demais,
e por demais te digo,
não serão precisas horas,
não serão, só estarão no meu relógio,
teu coração. Quando parar,
pararei eu também de paixão,
o lume do mistério, meu mistério
tua perdição,
terá água, e a água
veneno.
No entanto, não há medos,
receios, não há refúgios,
lágrimas, fugiram da minha cara,
senhora, és agora felicidade.

Joaquim Salgueiro

domingo, 4 de janeiro de 2009

O monólogo da loucura.

Simplesmente
deixei de ser simples,
Ataco-me, mordo-me
Quero a minha vida por prazer,
Não domo, não me domo a mim
Grito alto, choro sem fim
Muitas mulheres,
vieram e quiseram,
Umas não,
Outras tiveram.
Tiveram ou estiveram
porque não me tinham a mim,
Nem eu me tenho
Só o sonho sonha alto,
Só eu sinto e me rebaixo.
Por mim, chego ao fim,
Quanto ao fim...
Esse não me quer.

Joaquim Salgueiro